Como se o tempo tivesse feito esvoaçar cabelos em pedra fina, de ondas maleáveis, em céu escuro carregado de pontos luminosos. Esses fios de pedra, talhados com rigor, chegariam mais cedo a um porto de embarque de águas frias, mortas. O vento, seu submisso, encarregava-se de os aproximar e colocá-los suavemente em madeira velha, ruidosa, gasta pelo próprio tempo. Esses cabelos de pedra fina perdidos no esquecimento fitavam as águas negras e paradas, como que a pedir, que a qualquer momento, tingissem a sua pedra e deixassem à deriva apenas o cetim da sua real composição. Um lamento surdo, pequeno e suave, à beira de um porto, velho e abandonado. Eram apenas cabelos em pedra fina de cetim por surgir, ansiosos por nascer à superfície daquele mar morto de lágrimas geladas.
Imagem: /abice.deviantart.com
2 respostas:
quem disse que quando deixamos fluir as palavras que corrompem a nossa mente, que convulcionam o nosso coração, não estamos também a exercer o livro direito da arte? Abstracta ou não...é tua =) E eu gosto dela.
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fantástico texto! vou seguir o blog :) *
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